Floresta de mangue estoca mais carbono do que a tropical

29 de julho de 2021 - 15:09

É muito comum falarmos de carbono verde, aquele que se refere às florestas tropicais, às boreais e às temperadas. Tanto que carbono azul soa como uma novidade. Mas, na tarde desta quarta-feira (28), terceiro dia de programação da Semana Estadual de Proteção aos Manguezais e de Lançamento da Década do Oceano no Ceará, o conceito foi apresentado em uma roda de conversa com especialistas. “Carbono azul se refere a todo carbono capturado e armazenado nos oceanos e em ecossistemas costeiros, como o mangue”, explicou a oceanógrafa, Natália Beloto, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar-UFC). Ela realiza pesquisa sobre os estoques de carbono azul, em manguezais brasileiros.

De acordo com a pesquisadora, apesar de ter menor extensão em relação às áreas terrestres, os manguezais têm alta capacidade de armazenamento de carbono. “Enquanto a floresta tropical estoca 225 Mg/ha, a de mangue armazena 1.025 Mg/ha”, disse. O Brasil é o segundo maior país do mundo com áreas de manguezais e o Maranhão é o primeiro entre os estados brasileiros. Ela destacou que apesar do Ceará ser o décimo quarto, nesse ranking, cinco, dos 23 artigos científicos publicados, especificamente sobre estoque de carbono, “enquanto o Maranhão, nenhum”.

A explicação de Beloto é o grande desenvolvimento da atividade de carcinicultura por aqui. Com a remoção da vegetação, do solo, pelo trator, “o carbono é liberado”, conta. Querendo compreender como funcionava esse processo de armazenamento no mangue e tentar entender essas perdas, os estudos foram surgindo. O fato é, se preservadas, as áreas com floresta de mangue têm mais carbono estocado. “Os manguezais brasileiros são pouco estudados apesar de mais eficientes no combate às mudanças climáticas e as atividades impactantes aumentam a emissão de CO2”, conclui a oceanógrafa.

Carbono azul na Caatinga também foi assunto da roda de conversa. A temática foi apresentada pelo oceanógrafo, José Vitor Machado, mestrando do Programa de Pós-Graduação de Ciências Marinhas Tropicais, do Labomar. Ele apresentou a pesquisa que vem desenvolvendo sobre estoque de carbono, do solo de um manguezal em recuperação, no Estuário do Rio Pacoti. “Área em estágio de recuperação ecossistêmica”, disse. “Esse estudo é uma tentativa de melhor compreender o ecossistema, para que a gente possa restaurar e conservar da melhor forma possível: mais harmônica e mais sustentável”, completa.

O Coordenador do Programa Cientista-Chefe da SEMA e Semace, Dr. Marcelo Soares, encerrou a roda de conversa trazendo para a discussão políticas de conservação. Ele alertou que no contexto dos processos de licenciamento ambiental, ou mesmo na construção de políticas de conservação, é preciso pensar muito, o fato do estoque de carbono ser maior abaixo do solo (70%) , do que aquele que fica acima (30%) e o fato de a floresta de mangue estocar mais carbono do que uma floresta tropical. “O uso do solo, de maneira inadequada, tem um impacto muito grande sobre os serviços ecossistêmicos”, explicou. Os serviços ecossistêmicos são os benefícios que o ser humano obtém dos ecossistemas.

A roda de conversa foi moderada pelo técnico, Lucas Silva, da Coordenadoria de Biodiversidade da (Cobio), da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA).