Quando meio ambiente e inclusão andam juntos
13 de fevereiro de 2025 - 16:32 #Biodiversidade #Unidades de Conservação
Atualmente, o debate sobre a importância da inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem crescendo muito, principalmente com o surgimento de casos no âmbito educacional e profissional. A família do jovem estudante Heverton do Nascimento Ferreira, 17, com autismo, se insere no centro desse debate. Depois de inúmeras tentativas buscando um estágio como Técnico em Meio Ambiente, encaminhado pela Escola Estadual de Educação Profissional Salaberga Torquato Gomes de Matos, de Maranguape, ele foi recebido como estagiário no Parque Estadual Botânico do Ceará, em Caucaia.
A gestão da Unidade de Conservação (UC) estadual, priorizando a questão da inclusão e com o entendimento que a pessoa autista é capaz de realizar diversas atividades sem maiores impedimentos, deu oportunidade para o jovem estudante estagiar no Viveiro da UC. De acordo com a bióloga do Botânico, Roberta Rocha, foi preciso fazer algumas adaptações, mas nada que limitasse a atividade que ele teria que realizar. “Durante os quatro meses do estágio, Heverton foi acompanhado pelo Professor José Milton Silva Lima e realizou todas as atividades demandadas”, disse.
Em carta de agradecimento, direcionada para a bióloga do Botânico, a mãe do estagiário, Veronice Maria do Nascimento Ferreira, afirma que ao encerrar o estágio, Heverton demonstrou tristeza. “Ele sabe que esses momentos irão acabar. Foram 300 horas de aprendizado, sensibilidade, respeito e inclusão”, escreveu. O estudante acaba de ser aprovado no vestibular e vai cursar Engenharia Ambiental no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, no Campus de Maracanaú.
Acolhimento e inclusão
Na carta, a mãe também relata o acolhimento recebido pelo estagiário por parte da equipe da Unidade de Conservação estadual. Descreve a alegria do jovem por se sentir capaz e feliz por estar entre amigos que o respeitam e por sua inclusão nas atividades do Parque Estadual Botânico, ao ponto de se sentir parte do mesmo. “Nunca vi meu filho tão feliz, empolgado e determinado por estar aí com vocês, onde foi tão bem recebido, a ponto de superar essa dificuldade de socialização”, escreveu.
Veronice destacou na correspondência a dificuldade de criar e educar um filho autista, mesmo com leis que buscam promover a inclusão. “Roberta, não é fácil, as dificuldade são enormes, o preconceito velado, a indiferença e a exclusão ainda são fatos constantes no dia a dia”, descreveu. Durante seis meses, a Escola buscou estágio para o Heverton em seis empresas no município de Maranguape e nenhuma delas o aceitou, sequer receberam ou conheceram o jovem, simplesmente negaram a oportunidade.
A Câmara dos Deputados aprovou dia 8 de maio de 2024, projeto de lei que define regras para estimular a contratação, como empregado, aprendiz ou estagiário, de pessoas com TEA. A matéria foi enviada ao Senado. Segundo o texto, no âmbito do Sistema Nacional do Emprego (Sine), caberá à União manter um cadastro específico de candidatos com TEA para intermediação de vagas de emprego e para contratos de aprendizagem.
Sobre autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, que podem englobar alterações qualitativas e quantitativas da comunicação, seja na linguagem verbal ou não verbal, na interação social e do comportamento, como: ações repetitivas, hiperfoco para objetos específicos e restrição de interesses. Dentro do espectro são identificados graus que podem ser leves e com total independência, apresentando discretas dificuldades de adaptação, até níveis de total dependência para atividades cotidianas ao longo de toda a vida.
Fonte: Ministério da Saúde