Philip Martin Fearnside expõe consequências catastróficas do desmatamento na Amazônia: “vamos perder o controle do clima”
17 de junho de 2024 - 16:00
Após a abertura do Seminário “Ceará pelo Clima”, o biólogo e cientista norte-americano Philip Martin Fearnside realizou a palestra magna do evento. O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPE) é um dos maiores especialistas em mudanças climáticas do mundo. Ele pintou um quadro catastrófico para o clima do Brasil e do mundo, a partir do processo de desmatamento da Amazônia, região fundamental para evitar efeitos ainda mais negativos para o planeta em relação às mudanças climáticas.
“Há uma discussão entre os líderes mundiais que reconhecem a importância do tema, porém, para que haja um impacto significativo na atual realidade das mudanças climáticas seria necessário reduzir 43% até 2030 e 84% até 2050 das emissões de gases de efeito estufa”, afirmou. Segundo ele, o ideal é zerar as emissões até 2050, o que “será difícil, porque os líderes mundiais não querem abrir mão do lucro gerados pela produção de petróleo e seus derivados”. Philip criticou inclusive a possibilidade de explorar petróleo na foz do rio Amazonas, o que, segundo ele, afetaria o clima e a natureza de oito países.
O cientista chamou a atenção para o fato de que os incêndios estão fazendo a Amazônia perder grandes proporções de vegetação, o que contribui para que o clima saia do controle humano. Para se ter uma ideia, Nordeste e Sudeste perderiam quase metade do volume de chuvas, e os semiáridos, como é o caso do Ceará, teriam uma progressão para regiões desérticas.
Construção de hidroelétricas e estradas pioram o quadro
Philip criticou ainda projetos que abrem as terras indígenas para exploração de hidroelétricas, produção de madeira e minérios, além do agronegócio. Há também a construção de rodovias, como a BR-319, que agride rios e florestas, e também a possibilidade de abertura de novas hidroelétricas. “Além dos impactos ambientais, essas novas hidroelétricas farão as energias eólica e solar perderem competitividade”, pontoou. Estas intervenções estão multiplicando as possibilidades de desmatamento e levando a mais incêndios e secas. Caso o quadro atual persista, rios como o Xingu e o Tapajós perderiam mais de 30% do seu volume. “A vegetação, evidentemente, precisa de mais água para sobreviver, por conta do aumento da temperatura. E isso acaba matando as árvores”.
Entre 2015 e 2017, foi morta quase um milhão de hectares de árvores, vitimas de incêndios florestais e exploração madeireira. “Por isso, a tendência é que haja mais episódios de seca. Até 2050, 10% a 47% da Amazônia poderá expor sua vegetação a um ponto de não retorno”, finalizou.