CRUSTÁCEOS

Os crustáceos estão entre  os grupos animais com maior representatividade no litoral cearense. É  um grupo bastante heterogêneo, com cerca de  38.000 espécies conhecidas, onde   84% destas são marinhas/estuarinas, 13% de água doce e apenas 3% terrestres (Martin & Davis, 2001). Por isso, os mares e oceanos são os habitats mais comuns deste grupo. Os crustáceos são um dos recursos de maior importância na indústria pesqueira do mundo, sendo uma das fontes de alimento mais utilizadas pelas populações humanas e tendo um alto valor comercial. Algumas populações ribeirinhas  tem os crustáceos como principal fonte de renda, com a coleta e comercialização de algumas espécies  como caranguejos e siris. 

 

Além de fonte de renda e alimento para o homem, os crustáceos representam importantes intermediários na cadeia alimentar aquática, por servirem de alimentos para vários animais que têm os crustáceos, muitas vezes, como seu principal item alimentar. Devido à função realizada no ambiente, o estudo dos crustáceos  é fundamental para a compreensão do funcionamento dos ecossistemas aquáticos (marinhos e de água doce)  e terrestres.

 

O conhecimento das espécies de crustáceos que ocorrem nos diferentes ecossistemas do estado do Ceará servirá como um banco de dados para auxiliar no estabelecimento de processos e diretrizes que servirão de base para nortear o uso sustentável dos recursos naturais, integrando os usos tradicionais destas riquezas pela população local. E não há dúvidas que  o conhecimento da fauna de crustáceos presente no Ceará seja fundamental para a implementação de ações de manejo e conservação, principalmente das espécies amplamente  utilizadas pela indústria de alimentos e pelas populações como fonte de alimento (Bezerra & Franklin Jr., 2002).

 

Neste contexto,  o inventário de crustáceos do Estado do Ceará foi elaborado a partir do levantamento de espécimes depositados em diversas coleções biológicas regionais, nacionais e internacionais, bem como a partir de publicações em revistas científicas, inventários, bases de dados e literaturas não publicadas (monografias, dissertações e teses). Ao todo, foram inventariadas 493 espécies de crustáceos, pertencentes a nove ordens, 107 famílias e 321 gêneros. As classes representadas foram Hexanauplia (n = 53 espécies), Malacostraca (n = 434 espécies) e Branchiopoda (n = 8). Dentro da Classe Hexanauplia estão presentes representantes da Superordem Copepoda (n = 41 espécies) e Thoracicalcarea (n = 12 espécies). Já na Classe Malacostraca, podem ser encontrados no Ceará representantes da Subordem Peracarida, a qual foi representada pelas Ordens Amphipoda (n = 23 espécies), Isopoda (n = 33 espécies), Tanaidacea (n = 6 espécies) e Mysida (n = 3 espécies); da Subordem Hoplocarida (n = 23 espécies) e Subordem Eucarida (n = 343). Por fim, na Classe Branchiopoda, podem ser encontradas oito espécies da Ordem Diplostraca. 

 

Os crustáceos constituem o grupo mais diverso do Reino Animal em termos de morfologia, de modo que é difícil compreender a enormidade de todo o táxon em um só tempo. Dessa forma, a fauna que compõe o grupo Crustacea foi subdividida em grupos menores a fim de facilitar a organização do inventário e proporcionar informações gerais sobre cada subgrupo. Listamos abaixo os subgrupos de crustáceos inventariados para o estado do Ceará:

 

1.Classe: Hexanauplia – Superordem: Copepoda

 

As espécies de copépodes inseridas no inventário de crustáceos pertencem ao Plâncton. Este termo refere-se aos organismos que, apesar de possuírem movimentos próprios do seu corpo, são transportados passivamente pelas correntes e massas de água no ambiente aquático. Copepoda é um subgrupo que reúne pequenos microcrustáceos que passam todo o seu ciclo de vida na coluna d’água. Esses organismos microscópicos são vitais para a vida aquática, pois irão transferir a energia dos produtores primários até os demais níveis da cadeia alimentar, como peixes, moluscos e outros crustáceos, por exemplo (Kennish, 1986; Kiørboe, 2008). O estudo deste subgrupo fornece informações valiosas sobre o ambiente.

 

Apenas espécies marinhas e estuarinas de copépodes foram inseridas no inventário devido à ausência de informações para o ambiente de água doce e terrestre. A classificação de habitat foi realizada seguindo as descrições de Bradford-Grieve et al. (1999) e a ocorrência das espécies na costa do estado do Ceará foram mencionadas em Oliveira-Santos et al. (2016), Campos et al. (2017); Campos (2018); Garcia et al. (2020); Garcia et al. (2021).

 

2.Classe: Malacostraca – Superordem: Peracarida

 

Os Crustáceos da Superordem Peracarida formam um grupo numeroso de animais que se caracteriza por possuir uma estrutura para incubar os ovos, o marsúpio, o qual é formado por modificações na base das patas. Geralmente são animais pequenos, com cerca de 2 cm de comprimento, mas o Isopoda Bathynomus giganteus pode chegar a 76 cm de comprimento. São muito numerosos, especialmente no leito dos oceanos, podendo também ser encontrados no ambiente terrestre e de água doce.

 

3.Classe: Malacostraca – Superordem: Hoplocarida

 

Os crustáceos da Superordem Hoplocarida, Ordem Stomatopoda, são popularmente conhecidos como tamarutacas, tamburutacas e mãe-do-camarão. São predadores que exibem um comportamento complexo e agressivo, sendo animais abundantes no ambiente marinho, em profundidades menores do que 200 metros, com algumas espécies podendo ser encontradas na zona entre-marés.

 

4.Classe: Malacostraca – Superordem: Eucarida

 

A classe Malacostraca e a Superordem Eucarida compreendem os maiores táxons de Crustacea com relação a diversidade e número de espécies. Aqui estão incluídos os crustáceos mais familiares, como os camarões, lagostas, caranguejos e siris. Se caracterizam, entre outras coisas, por possuir uma carapaça que recobre o corpo e olhos que ficam na ponta de pedúnculos. Os crustáceos dessa Superordem podem ser encontrados em todos os ambientes (marinhos, estuarinos e terrestres), com a maior diversidade presente nos ambientes marinho e estuarino.

 

5.Classe: Branchiopoda – Subordem: Cladocera

 

As espécies de cladóceros do inventário de crustáceos pertencem ao Plâncton. A Cladocera engloba organismos microscópicos que são, em sua maioria, de água doce e normalmente são associadas a águas com pouco nutriente(Martins, (2018); Sosnovsky et al., 2016). Os cladóceros são caracterizados por ciclos de vida curtos, rápido desenvolvimento e grandes populações transitórias (Crispim & Freitas 2005). Eles são importantes nas redes tróficas, principalmente de hábitos herbívoros filtradores, desempenhando o papel de consumidores primários (Rocha et al., 2011).

 

Como citar esta lista:

BEZERRA, L.E.A.; GARCIA, T.M.; COELHO, C.C.; SOUZA-FILHO, J.F.; SOUZA, L.A.; RIBEIRO, F.B.; PINHEIRO, A.P. 2021. Lista de Crustáceos do Ceará. Fortaleza: Secretaria do Meio Ambiente do Ceará. Disponível em https://www.sema.ce.gov.br/fauna-do-ceara/invertebrados/crustaceos/. Acessado em: 

 

 

 

EQUIPE TÉCNICA

Prof. Dr. Luis Ernesto Arruda Bezerra – (Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar)

Coordenador da Lista de Crustáceos

 

Dra. Tatiane Garcia – (Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar)

Pesquisadora da Lista de Crustáceos

 

Dra. Carolina Coelho Campos – (Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar)

Pesquisadora da Lista de Crustáceos

 

Prof. Dr. Jesse Fidelis de Souza Filho – (Universidade Federal de Pernambuco)

Pesquisador da Lista de Crustáceos

 

Profa. Dra. Leila Aparecida Souza – (Universidade Estadual do Ceará)

Pesquisadora da Lista de Crustáceos

 

Prof. Dr. Felipe Bezerra Ribeiro – (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Pesquisador da Lista de Crustáceos

 

Prof. Dr. Allysson Pontes Pinheiro – (Universidade Regional do Cariri)

Pesquisador da Lista de Crustáceos

 

Fotos:

Ogyrides alphaerostris (Kingsley, 1880). Escala: 2 mm. Foto: P.P.G. Pachelle

 

Pilumnus reticulatus Stimpson, 1860. Escala: 2 mm. Foto: P.P.G. Pachelle

 

Elasmopus karamani Souza-Filho & Senna, 2009, escala = 1 mm.  Foto: Jesser F. Souza-Filho.

 

Elasmopus lejeunei Souza-Filho & Senna, 2009, escala = 1 mm. Foto: Jesser F. Souza-Filho.

 

Pagurapseudidae (Tanaidacea ) – Foto: Catarina L. Araújo Silva

 

Mesanthura sp. (Isopoda). Escala = 1 mm. Foto: Ricardo José de Carvalho Paiva.

 

Macrobrachium jelskii. Escala 1cm. Foto: Allysson Pinheiro

 

Fredius Ibiapaba Santos, Tavares, Silva, Cervini, Pinheiro & Santana, 2020. Escala 2cm. Foto: Allysson Pinheiro

 

Kingsleya attenboroughii  Pinheiro e Santana, 2016. Escala 1cm. Foto: Allysson Pinheiro

 

Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862). A, morfotipo 1. B, morfotipo 2. C, morfotipo 3. D, morfotipo 4. Escala 2 cm. Foto: Allysson Pinheiro

 

Iuiuniscus iuiuensis Souza, Ferreira & Senna, 2015. Foto Rodrigo Lopes Ferreira.

 

Ctenorillo sp. Escala = 0,5 mm. Foto: Giovanna Monticelli Cardoso

 

Trichorhina sp.  Foto: Robson de Almeida Zampaulo

 

 

Calycuoniscus goeldii (Lemos de Castro, 1967). Escala = 1 mm. Foto: Daniela Correia Grangeiro

 

Copepoda (Microcrustáceo): Labidocera nerii 

Foto: Luana Catherine Gomes Prado

 

Copepoda (Microcrustáceo): Temora stylifera

Foto: Luana Catherine Gomes Prado