“Emergência Climática Global e os Impactos na Saúde das Populações”

Algumas expressões que devem ser compreendidas:

 

Mudanças Climáticas: a expressão é conceituada como alterações nos parâmetros climáticos globais. Essas alterações na Terra podem ocorrer naturalmente em frequências de tempo de milhões, milhares ou centenas de anos, tendo causas diversas (ex.: movimentação das placas tectônicas, erupções vulcânicas etc.). Logo, o termo Mudanças Climáticas – por vezes abordado de forma equivocada diante a existência das alterações naturais do clima na Terra – são alterações climáticas induzidas pelas atividades humanas, as quais intensificaram o aumento da temperatura na Terra, alterando o seu ciclo natural.

 

Efeito Estufa: fenômeno natural que ocorre na atmosfera terrestre, e garante a manutenção de uma faixa de temperatura que assegura a existência de vida no planeta. Dentre os componentes da atmosfera responsáveis pelo Efeito Estufa, pode-se citar o metano, amônia, óxido nitroso, ozônio, clorofluorcarbonetos, vapor d’água e dióxido de carbono, sendo os dois últimos elementos estão entre os principais componentes responsáveis por conservar a temperatura da Terra. O Dióxido de Carbono (CO2) recebe papel de destaque dentre os Gases do Efeito Estufa (GEE) por ser o principal componente resultante das atividades humanas.

 

Aquecimento Global: é o aumento da temperatura média global na Terra em decorrência das intervenções de atividades antrópicas, sendo consequência do aumento das concentrações de CO2 e outros gases. Ou seja, o Aquecimento Global é uma intensificação do Efeito Estufa diante o aumento da concentração de GEEs na atmosfera terrestre em decorrências das atividades antropogênicas.

 

Assim, Emergência Climática Global é a expressão a qual aponta a necessidade de mudança de hábitos, de comportamento, de transformação do uso de recursos naturais e de meio de produção na tentativa de reduzir o acelerado aumento da temperatura na Terra, realidade já vivenciada por todos nós. Essa mudança é urgente, pois todos estão sofrendo as consequências das alterações climáticas, com a ocorrência de eventos extremos: chuvas fortes, enchentes, deslizamento de terra, incêndios florestais, secas, aumento no nível do mar etc.

 

Essas consequências geram preocupação em todo mundo, em especial nos países e regiões mais vulneráveis e pobres, pois nas áreas com menos recursos financeiros e menos acesso a informação é onde serão concentrados os maiores impactos. Os impactos são diversos, tais como falta de água potável; redução na oferta de alimentos; perda de moradias; escassez de insumos para indústria; desequilíbrio na biodiversidade (aumento ou extinção de espécies); e aumento nos conflitos por recursos naturais.

 

Todos esses impactos afetam aspectos sociais, econômicos e ambientais de modo amplo e severo. Contudo, o aspecto social recebe preocupação diante da fragilidade da saúde humana e dos sistemas de suporte a saúde. De acordo com a OMS, as Mudanças Climáticas podem provocar pelo menos 150 mil mortes por ano, chegando a 300 mil mortes nos próximos anos. Essas fatalidades podem estar relacionadas diretamente aos eventos extremos, como também ao desequilíbrio da biodiversidade devido à ocupação do homem em ambientes naturais.

 

Como exemplo desse desequilíbrio, pode-se citar a última pandemia da COVID-19. De acordo com o Butantan, “a Covid-19 deixou claro que existe uma interface sensível entre nós e os vírus, e essa mediação está nos animais que vivem na natureza; quando o humano perturba esse ambiente há uma facilitação desses encontros.”. O aquecimento global irá aumentar o risco de transmissão viral entre espécies.

 

Além do desequilíbrio na biodiversidade que pode causar o aparecimento de novas doenças, há risco de incremento das doenças infectocontagiosas devido ao aumento do volume de chuvas, como leptospirose, hepatites, chikungunya e zika. Atualmente, a epidemia de Dengue no Brasil está presente em áreas que antes não havia ocorrência e é causada pelo aumento de chuvas e do calor, o que gera maiores condições de proliferação do mosquito vetor da doença.

 

Segundo a ONU, 30% da população mundial está exposta a ondas de calor mortíferas mais de 20 dias por ano. As ondas de calor também são responsáveis pelo aumento da intensidade de incêndios florestais, que chegam cada vez mais próximo de centros urbanos com as fumaças, como ocorreu no Amazonas e em Mato Grosso nos últimos anos. Essas plumas de fumaças podem agravar doenças respiratórias e colapsar sistemas de saúde.

 

Por outro lado, ondas de frio podem ficar mais intensas e afetar diversos sistemas do nosso organismo. É comum a associação do frio com o desenvolvimento de doenças respiratórias, como também prejudicar a saúde de pessoas propensas a doenças do coração.

 

Como dito, as mudanças climáticas alteram as condições ambientais, causando um desequilíbrio do ciclo natural da Terra. No cenário de aumento da temperatura, ocorre não apenas a disseminação de novas doenças, mas também o ressurgimento de doenças adormecidas ou surgimento de doenças não endêmicas. Destaca-se, também, que os sistemas de saúde não estão preparados para novas demandas de emergência climática.

 

Assim, é preciso mudar nossos estilos de vida, nossos hábitos. Ações individuais, desde a redução no uso de combustíveis fósseis, ao reúso e reciclagem de resíduos sólidos podem fazer a diferença para que possamos garantir um planeta em condições adequadas para as futuras gerações. Nossas ações devem ser baseadas no pensar e repensar do uso dos recursos naturais e seus derivados.

 

Apesar do cenário ser alarmante, nós – raça humana – somos resilientes e capazes de transformar realidades em momentos de vulnerabilidade. E temos dois aliados a nosso favor: conhecimento e domínio da tecnologia. Hoje o Ceará está em destaque com a transição energética, buscando diversificar e inovar sua matriz de produção de energia. O Ceará também recebe destaque pelas suas 39 áreas protegidas, as quais tem como objetivo proteger ecossistemas importantes e relevantes para a manutenção da vida na Terra. Mas essa luta não é somente do Governo do Estado, é de todos nós.

 

Por Vilma Freire – Secretária do Meio Ambiente e Mudança do Clima

Em: 29/02/2024

 

Referências:

https://butantan.gov.br/noticias/mudancas-climaticas-aumentam-o-risco-de-transmissao-viral-entre-especies#:~:text=Brasil%20%C3%A9%20visto%20como%20local%20de%20risco&text=As%20diversas%20transforma%C3% A7%C3%B5es%20proporcionadas%20pelo,s%C3%A3o%20transmitidas%20para%20o%20homem

 

https://www.unep.org/pt-br/explore-topics/climate-change/fatos-sobre-emergencia-climatica

 

https://portal.fiocruz.br/mudancas-climaticas

 

http://megacidades.ccst.inpe.br/sao_paulo/VRMSP/capitulo9.php

 

https://www.ufsm.br/midias/arco/mudancas-climaticas-e-a-saude-humana